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The Circle of Life, Hans Canon
Os povos da Kalláikia[1] celebravam os elementos primários, água, fogo, terra e ar,[2] distribuídos em celebrações solares que a Bruxaria Moderna veio a denominar de Sabates. Numa visão genérica, essas celebrações dar-se-iam no culto pagão transversal às gentes de então. Ademais, e tendo em conta a suspeição sobre as práticas feiticeiras dos Kallaikoi — que pode ser firmada na descrição sobre as tribos da Callaecia que Sílio Itálico faz na sua epopeia, Punica: “A opulenta Gallaecia enviou a juventude experta na adivinhação das entranhas, os voos das aves e os divinos lóstregos”[3] — essas festas solares que celebravam o ciclo da vida também seriam ampliados a partir da prática extática, visionária, mistérica e iniciática de alguns nascidos do Fogo Celestial, os sábios/expertos que refere Sílio Itálico. Seriam esses sábios dos augúrios que na Idade Média se viriam a denominar de bruxas. Quando nos pronunciamos sobre a Arte Bruxa, referimo-nos naturalmente à Arte Sábia, a Arte detentora dos atavismos arcaicos dos nossos antepassados, ou seja, da Arte conhecida no Sabbat a partir dos ancestrais divinizados.
Samonis | 1 Novembro | Ar
Para os Kallaikoi, o ano iniciava na metade escura do ano, no início do inverno boreal. Samonis, que nos tempos modernos se veio denominar de Samhain, é a Reunião, no Mundo Inferior, com a Senhora do Além, Moririgani.[4] Aqui celebrava-se o Ar, ou seja, os Espíritos. Em Portugal, a festividade é apontada em duas datas que parecem relacionar-se com Samonis, o Magusto, onde há vestígios da tradição de se preparar um manjar de castanhas para os mortos familiares[5] e o Dia de Finados, onde a honra aos mortos e às suas almas é de particular importância.
Ambíwolka | 1 Fevereiro | Água
Na chegada dos primeiros sinais da Primavera os Kallaikoi celebravam Ambíwolka, que modernamente se veio a denominar de Candelária, e marca o meio caminho entre o Solstício de Inverno e o Equinócio da Primavera. Ainda que em tempos mais modernos esta celebração caiu na simbologia da luz, com a Festa das Candeias, Candelária, os Kallaikoi evidenciavam o culto à água, fonte da vida terrena, a Purificação do Corpo de Carne, numa exaltação à Deusa do Crescimento e da Criatividade, Brigantia, que tem forte conexão com a Deusa Brighid dos irlandeses.
Beltonios | 1 Maio | Fogo
No Mês do Maio celebrava-se Beltonios, que actualmente se designa como Beltane. Honrava-se o Fogo da Fertilidade, em adoração a Belenos, onde o Corpo de Carne era exaltado nas Fogueiras Iniciáticas. Em Portugal ainda permanecem reminiscências da celebração milenar sob a forma de Festa das Maias ou Queima do Carrapato, onde nas fogueiras se queima o Eu simbólico. Curiosamente, Beltonios tem o significado de Mês da Morte[6], onde, diante do renascimento natural da vida, a morte iniciática é o outeiro máximo da celebração.
Lugunastada | 1 Agosto | Terra
No primeiro de Agosto, precisamente a meio caminho entre o Solstício de Verão e o Equinócio de Outono, celebrava-se Lugunastada, hoje denominado Lughnasadh. As Bodas de Lugus, o Deus-Rei e Sábio Soberano, com a Terra, tinha um carácter político[7] predominante na remota Callaecia, com as primeiras colheitas e o agradecimento das mesmas como pano de fundo da festividade.
[1] Termo que advém do grego, difundido, entre outros, pela Academia Galega da Língua Portuguesa, referindo-se a Gallaecia/Callaecia/Galécia
[2] Higino Martins Esteves, em As Tribos Calaicas, refere que os elementos naturais “não eram só dos gregos pré-socráticos; eram categorias de apreensão da realidade dos indo-europeus e doutras culturas.”
[3] Luís Magarinhos, em Identificações, símbolos e alteridades dos callaeci da antiguidade: A caetra do labirinto e as suas representações, na tradução de excerto de Punica de Sílio Itálico: “Fibrarum et pennae diuinarumque sagacem, flammarum misit diues Callaecia pubem."
[4] Higino Martins Esteves, em As Tribos Calaicas, refere a etimologia de Moririgani como ‘Rainha de Espectros’, associando-a à irlandesa Morrigain.
[5] Leite de Vasconcelos, em Opúsculos, Vol. VII — Etnologia
[6] Higino Martins Esteves, em As Tribos Calaicas, referindo-se ao Mês da Morte como ‘a do Meio Ano Escuro’ ou ‘do ano fusco’.
[7] Higino Martins Esteves, em As Tribos Calaicas, refere Lugus como “Soberano Sábio de todos os celtas, que, a par do perfil indo-europeu, trazia os significados universais da monarquia sagrada dos povos arcaicos.”