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Detalhe de um cofre de madeira alemão (ca. 1325-1350) representando um coração cravado com flechas de amor
Segundo Plínio, o Velho, amuletum é um objecto mágico que protege a pessoa que o usa de malícias. Distinguem-se assim dos Talismãs, sendo, os últimos, objectos com propriedades mágicas que atribuem poder, energia e benefícios a quem o utiliza.
Quando o ser humano se viu rodeado de seres malfazejos, procurou oferecer-lhes resistência com o uso de amuletos providos de virtudes contra o mal. Esses amuletos devem o seu efeito à natureza das substâncias que os compõem, podendo ser dos regna naturae — animal, vegetal ou mineral — ou mesmo fabricados por mão humana. Admite-se que um fragmento de um certo objecto natural ou fabricado, possui também a virtude desse objecto no seu todo, especialmente se esse fragmento for parte essencial do objecto, ou seja, se contiver a virtude essencial do mesmo. O caráter apotropaico dos amuletos não está apenas na sua composição material, mas também na sua confecção. Mesmo aqueles que são de origem natural, exigem, ainda assim, uma ritualização que lhe atribui o poder pretendido.
Do reino vegetal, admite-se o uso de amuletos para proteção pessoal como o ramo de Arruda (Ruta graveolens) para se livrar de encantamentos bruxos; ramo bento, de Palmeira (Arecaceae), Oliveira (Olea europaea), Loureiro (Laurus nobilis), Alecrim(Salvia Rosmarinus) ou Rosmaninho (Lavandula stoechas) para se livrar da influência dos trovões, da chuva forte e do mau tempo em geral, que são guardados atrás da porta de entrada das casas ou queimados em caso de necessidade; o Sabugueiro (Sambucus nigra) e o Alho (Allium) para afugentar espíritos malignos; Terra de Sepultura, que deve ser levada ao pescoço para se livrar de febres; colares de contas feitos de raiz de Lírio (Lilium) e pó de Figueira (Ficus), usados ao peito para se preservar de doenças.
Do reino mineral, utilizam-se lascas de Pedra de Ara — altar em pedra benzida onde o sacerdote realiza a consagração — trazidas ao pescoço para se livrar de diversos males; o pó raspado de um penedo de virtude ou de uma imagem santa, que, levado ao pescoço, livra da febre; Pedra de Raio, que livra de acidentes provocados por trovões; medalha com pedras coloridas encravadas, colocada ao pescoço, que protege de espíritos malévolos, crendo-se que quando o espírito tentar atacar a pessoa, em vez de se fixar na pessoa, fixa-se numa das pedras, partindo-se e talhando o mal; meia-lua ou lunula (que pode ser de metal, marfim ou ainda de madeira), representando o quarto crescente, pendurada ao pescoço, que evita os efeitos maléficos lunares, sendo que esses malefícios alojam-se no pendente em vez de na pessoa; azeviche, levado preso no braço ou pendurado ao pescoço, utilizado para evitar encantamentos, ligamentos e todo o tipo de feitiços como mau-olhado ou quebranto, ou ainda para afugentar os demónios.
Do reino animal, utiliza-se uma bolsa de chita, pendurada ao pescoço, com o maxilar inferior de um ouriço-cacheiro para evitar a dor de dentes; dente de um defunto, colocado ao pescoço, que evita a deterioração dentária; dente canino de um lobo, encastoado em prata, que se usa contra os acidentes da dentição; dente canino de porco, encastoado em lata ou latão, pendurado nas testeiras de machos e mulas; dente de cão, levado na algibeira, para evitar a dor de dentes; dentes, olhos, buço e sangue de lobo, quando caçado, que deve ser guardado para evitar moléstias; osso de cão, pendurado ao pescoço de um animal ou dentro de uma bolsa, que protege contra pragas dos animais, como o caso da sarna; coral vermelho, e em alguns casos branco, usado no braço ou ao pescoço, protege contra bruxedo e mau-olhado.
Na categoria do fabrico humano, a ferradura da pata esquerda de um animal também é utilizada como amuleto. Mais a norte é pregado na parte de fora da porta de entrada das casas, enquanto mais a sul é pregado na parte de dentro da porta, e tem o fim de evitar que os malefícios entrem na casa. No Minho as tecedeiras usariam também a ferradura presa aos teares; nós mágicos, ou fitas, normalmente de cor vermelha por gozarem de virtudes mágicas mais efetivas, que se atam nos chifres dos bois; pingentes triangulares ou em forma de coração, que se levam ao pescoço, e que servem para prevenir doenças do coração. As mulheres minhotas utilizam um coração bordado ao peito.
Bibliografia Consultada:
Anthony Rich, Dictionnaire des Antiquités Romaines et Grecques
António Tomás Pires, O Concelho de Elvas de Victorino d’Almada
Daremberg & Saglio, Dictionnaire des Antiquités Greques et Romains
Francisco Adolfo Coelho, Etnografia Portuguesa
Gaius Plinius Secundus (Plínio, o Velho), Naturalis Historiae
José Leite de Vasconcelos, Antiguidades de Cárquere in Revista Archeologia, II
José Leite de Vasconcelos, Tradições Populares de Portugal
José Leite de Vasconcelos, Religiões da Lusitania
Teófilo Braga, O Povo Português, II